sábado, 10 de março de 2018



Alyne da Silva Pimentel: Uma morte materna plenamente evitável
por Conceição Lemes

Nesta sexta-feira 16, faz exatamente dez anos que Alyne da Silva Pimentel morreu. Negra, 28 anos, moradora de Belfort Roxo, na Baixa Fluminense (RJ), casada, mãe de uma menina de 5 anos.
O Para quem ainda não o conhece, relembramos os pontos principais.
Em 2002, grávida de 27 semanas, Alyne procurou uma casa de saúde particular com vômitos e fortes dores abdominais. Foram-lhe prescritos remédios para náuseas, vitamina B12 e infecção vaginal.


Dois dias depois piorou, voltou à casa de saúde, fez ultra-sonografia. O feto estava morto. Os médicos induziram o parto. Mas só fizeram a cirurgia para retirar a placenta 14 horas depois. Alyne teve hemorragia, vomitou sangue, a pressão arterial caiu. Decidiram transferi-la para um hospital público.
O único que a aceitou foi o Hospital Geral de Nova Iguaçu. Alyne esperou oito horas por ambulância. Como a casa de saúde não encaminhou junto qualquer documento que indicasse o seu estado clínico, ficou horas no hall da emergência, pois não havia leito disponível. Aí, entrou em coma e faleceu. Entre o mal-estar inicial e o óbito se passaram cinco dias.
Alyne morreu devido à falta de acesso a um pré-natal de qualidade, o nosso calcanhar-de-aquiles, pesando muito, é claro, a discriminação sistemática por ser negra e pobre. Aliás, a alta taxa de mortalidade materna no Brasil se deve principalmente à má qualidade do atendimento e à falta de organização das redes de serviços, e não por falta de acesso ao pré-natal, como muitos como muitos propagandeiam.
O caso foi denunciado ao Comitê para a Eliminação de Discriminação contra a Mulher (Cedaw), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 10 de agosto de 2011, o Brasil foi condenado. Foi o primeiro de caso de morte materna julgado pelo Comitê Cedaw. Ele concluiu que o Estado brasileiro falhou em proteger os direitos humanos de Alyne: o direito à vida, o direito à saúde e o direito à igualdade e não discriminação no acesso a saúde. Como sanção , determinou reparação à família, inclusive financeira, e a implementação de uma série de recomendações, para que mais Alynes não morram de uma morte evitável.

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